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10 Anos de Patagónia - Parte II

  • Foto do escritor: Patricia Reis
    Patricia Reis
  • 24 de fev. de 2020
  • 7 min de leitura

Atualizado: 2 de abr. de 2020



Terceiro percurso: de Colonia del Sacramento (Uruguai) para Buenos Aires (Argentina) - 1h30 de ferry


Ei-la. Mi Argentina querida! Sim, spoiler alert: a Argentina guardou um lugar muito especial dentro de mim, não só pela Patagónia mas também por esta cidade. Buenos Aires é uma cidade imponente e com um ambiente muito interessante - uma espécie de Europa com tempero da América do Sul. O melhor de dois mundos.


Pela primeira vez decidimos ficar alguns dias num único sítio, aproveitando assim para descansar, criar algumas raízes e desfrutar. Dirigimo-nos para o centro à procura de um cibercafé. Sem smartphones e sem reservas feitas era assim que ficávamos online com o resto do mundo. Numa hora paga de internet tentávamos mandar emails para Portugal e pesquisar alojamentos. Lembro-me perfeitamente que usávamos o hostelworld ou o hihostels . O nosso objectivo era tentar não gastar mais que 5€/10€ por noite, o que implicava ficar em hostels e, muitas vezes, em quartos partilhados mistos para tornar a coisa mais económica, mas também para conhecer pessoas. Na altura, se não me engano, o euro valia cerca de três reais brasileiros e cerca de cinco pesos argentinos. Portanto, conseguimos um spot numa cadeia de hostels conhecida da altura, sobretudo para jovens, numa zona central (perto da Praça 9 de Julho e da Avenida Corrientes), com pequeno almoço incluído e boas condições gerais. Ao segundo dia, conhecemos um brasileiro - o Filipe (cara muito massa!) - que ficou no nosso quarto e estava à espera da noiva que viria a juntar-se a nós uns dias mais tarde, passámos, assim, a ser um trio.


Bs As tem muita coisa para ver e fazer e, vinda eu de Florianópolis (cidade muito dedicada à praia e mais tranquila - não que seja algo negativo, simplesmente sentia falta de uma cidade mais cosmopolita), estava a ressacar outro tipo de cultura e arte, portanto foi tentar aproveitar ao máximo: desde o querido bairro La Boca de cariz pobre e com forte influência italiana, onde podemos encontrar o mítico La Bambonera (estádio do Boca Juniors), as casas de madeira e telhados metálicos multi coloridas e as tabernas com tango; até ao oposto Puerto Madero, umas das zonas mais modernas da cidade à beira rio, passando pelo cemitério da Recoleta e seus túmulos famosos, incluindo o de Eva Péron; desde o lanche e espectáculo de tango no Café Tortoni (ver vídeo) até uma ida ao teatro na Avenida Corrientes que nos levou a vestir a nossa melhor fatiota, entre muitos outros bairros que fomos explorando a pé. Também aqui engordei uns quilos. Tudo graças à casa Havanna, espalhada por tudo quanto é canto, cheia de alfajores com os mais variados recheios e coberturas. Estes alfajores são as melhores bolachas alguma vez inventadas! Com a boca a salivar, despedimos-nos, assim, de Bs As. Próximo destino: Mar del Plata, mas antes, as fotos:









Quarto percurso: de Buenos Aires (Argentina) para Mar del Plata (Argentina) - cerca de 400km


Mar del Plata é uma cidade balnear na costa atlântica da Argentina. Era a nossa última paragem antes de entrarmos na Patagónia e quisemos espreitar o que seria uma espécie de Algarve para os argentinos. Devo dizer que não fiquei nada impressionada. Provavelmente, se soubesse o que sei hoje, teria eliminado esta cidade do roteiro. Mar del Plata é, sobretudo, uma cidade que vive do Verão e das suas praias, com gente endinheirada da região de Buenos Aires, onde têm as suas casas de férias pitorescas e art-déco de estilo espanhol ou francês. As pessoas têm aquela cor nutella embrenhada na pele, as miúdas gostam de biquinis cor de rosa forte e muita gente anda de patins em linha à beira mar. Não que haja nada de errado com tudo isto que acabei de descrever, mas a soma das partes (as pessoas, o ambiente e o cenário pitoresco) tornou tudo numa salganhada difícil de digerir. Para encontrar uma cama disponível foi um filme. Não havia absolutamente nada livre e tivemos que implorar, num dos alojamentos, para que nos deixassem ficar num quarto qualquer, dividindo o espaço com alguém. Assim foi, ficámos num quarto de um senhor que não trocou uma palavra connosco. Também, verdade seja dita que, a situação da partilha quase forçada do quarto era estranha. O senhor-parceiro-de-quarto tinha uma mala apetrechada só com lentes e máquinas fotográficas. Calculei que fosse um paparazzi qualquer preparado para apanhar a celulite das famosas que para ali vão de férias. Senti-me no meio da Tv 7 Dias. Erro de casting... Seguimos, rapidamente, para Puerto Madryn. Finalmente na Patagónia. Adeus pessoas, olá deserto.



Quinto percurso: de Mar del Plata (Argentina) para Puerto Madryn (Argentina) - cerca de 850km


Depois de umas quantas horas de viagem, a paisagem começa a mudar. A vegetação começa a ficar mais rasteira, mais árida também, e são quilómetros e quilómetros de terras planas até à linha do horizonte, sem avistar uma única habitação. Somos nós e a estrada. Entrámos no deserto da Patagónia - o 8º maior do mundo - e a sua paisagem varia entre as zonas mais secas e áridas até às zonas de glaciares e pequenas florestas de montanha - estas últimas mais a sul do continente. Naquele momento, estávamos a entrar na zona árida e seca.


Puerto Madryn. A cidade em si pouco interesse tem e, muitas vezes, serve de porta de entrada para a Península Valdés (que fica a escassos quilómetros). Península essa que está classificada como Património Mundial pela UNESCO desde 1999. Aqui encontramos um ecossistema natural muito variado, e é um dos principais pontos de atracção de toda a patagónia argentina, onde podemos avistar guanacos, tatus, leões marinhos, focas, pinguins, e ainda, em dias de sorte, baleias e orcas - que muitas vezes vêm até à linha da costa para se alimentarem de leões marinhos e focas - estratégia rara de ataque que pode ser vista nesta zona. Infelizmente, não tivemos essa sorte!


Para comprovar isto mesmo comprámos um pacote que incluía: a deslocação de carro até à Península com um guia turístico; uma viagem de barco pela costa de modo a podermos avistar sobretudo o grupo de focas e pinguins que se encontram nas escarpas das encostas; e a visita à zona da caleta valdes para avistarmos os pinguins e leões marinhos e, quem tiver sorte, orcas a darem à costa para se alimentarem. A viagem de carro desde de Puerto Madryn até à peninsula demorou cerca de 1h. Nós fomos com mais duas pessoas - mãe e filha - para dividirmos as despesas do transporte e do guia. A filha devia ter uns 9 anos e estava muito entusiasmada com as ovelhas. Passou a viagem toda a gritar por elas. Na altura pensei que devia trazê-la ao Alentejo, passava-se com tanta ovelha. Para além disso, também se fartou de limpar o nariz, onde deve ter encontrado um zoo inteiro e aproveitou para colocar os bicharocos colados no banco traseiro do carro. Ela olhava para mim como que, por um lado, a pedir autorização e, por outro, a perguntar se eu não me ía chatear (a mãe estava distraída a conversar com o guia). Não, claro que não. É um segredo nosso e um recuerdo para os próximos turistas. Achei bonito. Bonitos são também estes animais e toda a Península. As fotografias tentam fazer-lhes jus, sem grande sucesso, mas cá vão:






Sexto percurso: de Puerto Madryn (Argentina) para Rio Gallegos (Argentina) - cerca de 1200km


Vista a Península seguimos para Rio Gallegos. Estávamos a aproximar-nos de Ushuaia e esta é provavelmente a última grande cidade que íamos encontrar antes de entrar na província de Tierra del Fuego - província mais a sul da Argentina. Além disso, teríamos sempre que trocar de autocarro para seguir viagem, portanto aproveitámos para fazer uma pausa técnica, depois de cerca de 16h dentro de um autocarro. É, também, em Rio Gallegos que os planos começaram a sofrer alguns percalços. Assim que procurámos por bilhetes de autocarro para Ushuaia, informaram-nos que o próximo só partiria daí a 2 ou 3 dias. Não são grandes notícias, Rio Gallegos não tem propriamente nada de muito interessante para visitar, nem num raio de alguns quilómetros à volta. Conclusão, íamos ficar empatados numa cidade sem interesse, a gastar tempo e dinheiro. O senhor da bilheteira perguntou-nos qual era o nosso plano depois de visitar Ushuaia e nós dissemos que seria começar a subir junto à cordilheira dos Andes e parar em El Calafate para visitar o Glaciar Perito Moreno. Ele aconselha-nos a inverter o plano: visitar já El Calafate (com saídas de autocarro mais frequentes), regressar a Rio Gallegos e depois seguir viagem para Ushuaia. Assim fizemos, apesar de estarmos a atropelar o plano e a andar para Norte, quando o objectivo era ir para Sul.


Um pequeno mapa do Google, com um zoom sobre a "cauda" do continente e da patagónia para ajudar a perceber. O pinoco está sobre Rio Gallegos; El Calafate fica a Noroeste, junto à mancha de neve e ao Parque Nacional Torres del Paine. Ushuaia é a penúltima terriola indicada, a contar de baixo - mais a sul, no mapa. (Importante a reter desta imagem também, as linhas mais carregadas a branco delimitam a fronteira entre território argentino e chileno. Portanto, nota mental, para chegar a Ushuaia tivemos que passar pelo Chile).





Sétimo percurso: de Rio Gallegos (Argentina) para El Calafate (Argentina) - cerca de 300km


Chegamos rapidamente a El Calafate - ou simplesmente Calafate - pequena cidade encostada à cordilheira dos Andes, claramente com características diferentes da patagónia árida e desértica que tínhamos deixado para trás. Aqui encontrámos uma vegetação mais verde, de montanha, não estivéssemos nós perto de glaciares e, portanto, perto de água. A arquitectura também muda, Calafate podia ser uma espécie de estância de ski com construções de madeira parecidas a chalés alpinos. O tipo de turista também muda. Este turista é um turista de montanha que vem preparado para o frio (já lá vamos...), que faz trekking, e que claramente vai percorrer todas as grandes atracções naturais dos Andes, desde picos de montanha a glaciares. Ora, onde é que eu ía com a minha mochila cheia de roupa de Primavera/Verão? Primeiro erro de preparação para esta viagem: falta de roupa quente. Estamos no Verão, certo, mas não deixam de ser glaciares. As temperaturas, nesta altura, andam algures entre os 18 e os 12 graus, mas podem baixar até aos 7. Na verdade não foi só um erro desta viagem em específico, mas do meu intercâmbio todo, pensei que ir para o Brasil era sinónimo de Verão e Primavera o ano inteiro. E até pode ser, mas no Nordeste, não no Sul para onde eu fui, ou seja, para ser mais honesta, eu não tinha roupa de Inverno.


Daqui seguimos, finalmente, para o Glaciar Perito Moreno, que fica sensivelmente a 40min de viagem de autocarro. Calafate é uma cidade muito castiça, bem equipada (aeroporto, lojas, restaurantes, alojamentos), bem cuidada e, portanto, bem preparada para receber turistas, não fosse ela uma espécie de cartaz de boas vindas aos lagos, glaciares e parques naturais que podem ser visitados ali à volta. Deixo aqui algumas fotos apenas para se perceber a pinta da cidade.









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