Um fim-de-semana na Bélgica - Parte II
- Raquel Pereira
- 12 de mar. de 2020
- 4 min de leitura
Bruxelas

De volta a Bruxelas, saímos do comboio da Gare Centrale e começamos finalmente a explorar a capital. Sendo sábado ao final da tarde, os cafés e os restaurante daquela zona estavam cheios e o clima de natal chamava imensa gente à rua, não só a ver as iluminações mas entretidos nas diversões que se viam em cada esquina. A primeira paragem foram as Galeries Royales Saint-Hubert, uma espécie de centro comercial de luxo, desenhadas pelo arquitecto Jean-Pierre Cluysenaer e inauguradas a 20 de Junho de 1847. Na época, o espaço incluía lojas, auditórios, cafés, restaurantes e apartamentos. No século XIX a criação de espaços culturais como o Théâtre du Vaudeville, o Cinéma des Galeries e o Taverne du Passage, atraiam ao local pintores e escultores que fizeram dele o seu ponto de encontro, entre os quais Victor Hugo, Alexandre Dumas e Edgar Quinet. Mais tarde, pintores surrealistas e artistas do grupo Cobra foram também presença assídua no local. Hoje as galerias são frequentadas por imensos turistas, atraídos pela história e pela decoração exuberante e continuam a dar vida aos cafés, restaurantes e lojas de luxo, infelizmente só mesmo acessíveis a algumas carteiras. Ainda pensei em trazer um Rolex de 100 mil euros mas desisti da ideia.
E daqui fomos para La Grand-Place, ou Grote Markt, que é imperdível de tão linda e foi o que mais valeu a pena ver na cidade de Bruxelas. Considerada Património Mundial da UNESCO desde 1998, é composta por variados edifícios, todos diferentes entre si e que em conjunto formam uma combinação eclética de diversos estilos arquitectónicos e períodos e combinam a história e as particularidades da região. Entre os edifícios destaca-se o Hotel de Ville - a Câmara Municipal – construída em estilo gótico durante o século XV e ornamentada com uma torre de quase cem metros; do lado oposto da praça, encontra-se a Maison du Roi, que hoje é o Museu da Cidade; destaca-se ainda a Maison des Ducs de Brabant, composta por um total de sete casas, contando da porta número 13 até à 19; a Le Pigeon (números 26 e 27) onde morou Victor Hugo em 1852 e na qual podemos encontrar uma placa a assinalar isso mesmo. A praça foi exposta a um bombardeamento das tropas de Luís XIV em 1695, e foi reconstruída quase totalmente nessa altura. Durante os séculos seguintes, sofreu diversas renovações e modificações. Hoje, há ainda vários cafés, bares e restaurantes, no entanto, pela localização privilegiada têm um custo também mais elevado.

Como era Dezembro, a praça estava decorada com a tradicional árvore de natal e presépio e durante a noite havia um espectáculo de luzes e música que iluminava os edifícios de diversas cores e para mim, que sou uma sentimental com as coisas de natal, me deixou ainda mais embasbacada e a olhar para tudo aquilo como se fosse uma criança numa loja de doces. A praça ficava simplesmente de babar! Ainda ficamos ali um bom bocado a ver o mesmo várias vezes (sim, sou essa pessoa). O único senão era a quantidade de turistas e a confusão instalada naquele local, que fez com que me perdesse da minha amiga algumas vezes.
Para o jantar pedimos uma recomendação no nosso hotel e acabamos por jantar no Chez Léon, um daqueles restaurantes típicos para turistas mas que acabou por nos surpreender e além de termos sido bem atendidas, comemos bastante bem. Para terminar a noite fomos ao Deliruim Café, um dos bares tradicionais mais reconhecidos da cidade, e que conta com uma variedade de mais de 2000 cervejas disponíveis, o que lhe valeu uma entrada no Guinness World Records em 2004.
Antes de regressamos ao hotel voltamos à Grande Place, agora quase vazia, o que permitia que a conseguíssemos ver e absorver como deve ser, sem encontrões e barulho e percebemos que o segredo é mesmo ir depois da meia-noite.

No último dia aproveitamos a manhã para ver o Parlamento Europeu e o Edifício Berlaymont – a sede da Comissão Europeia da autoria do arquitecto Lucien de Veste, mas como era domingo estava tudo fechado e não se via por ali ninguém a não ser turistas.
Aproveitamos para passear um pouco pela zona e conhecer o Parc du Cinquentenaire, onde está localizado o Musée Royal de l'Armée et d'Histoire Militaire e as famosas Arcades du Cinquentenaire.
Para a tarde não tínhamos nada planeado, fomos almoçar a um mercado de natal e aproveitamos para conhecer um pouco melhor a zona histórica, comer mais um waffle maravilhoso (foram alguns durante dois dias) e ir até à estátua do Manneken Pis - a estátua do menino a fazer xixi - mas já sabíamos de antemão que era uma pequena miniatura em bronze de um menino a urinar para a bacia da fonte numa esquina, e que todos os que conhecíamos e que já lá tinham ido tinham ficado super desiludidos. Este é o mais conhecido símbolo do povo de Bruxelas, bem como de seu bom humor e de sua liberdade de pensamento. A estátua tem uma muda de roupa para cada dia do ano, mas no dia da nossa visita estava nú.
Uma das coisas que optamos por não visitar foi o Atomium, pois em tão pouco tempo de viagem tivemos que fazer algumas opções, e das opiniões que ouvimos, era coincidente dizerem que não é um local assim tão interessante.
A minha parte preferida da viagem acabou mesmo por ser Bruges e se tiverem oportunidade vale mesmo a pena visitar. Tive imensa pena que não tivéssemos conseguido passar lá a noite porque o centro histórico deve ser lindíssimo todo iluminado. Já Bruxelas, confesso, não me fascinou. Acabou por correr bem porque os mercados e as decorações de natal dão cor e alegria à cidade mas, praça principal à parte, não me senti fascinada com a cidade em si. É verdade que tivemos muito pouco tempo e talvez por isso não tenhamos conseguido absorver bem o seu espírito, mas na verdade, a cidade parece cinzenta, não há muitos pontos de interesse se compararmos com outras capitais europeias, e uma das coisas que mais nos chamou a atenção foi a quantidade de lixo que existe espalhado pelo chão.
Bruxelas parece estabelecer-se em cima de uma incrível junção de culturas, no entanto, esta não parece deixar espaço para a cultura belga que na verdade não conseguimos bem compreender, mas se calhar o seu encanto é mesmo esse.
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