Adeus Maestro
- Patricia Reis
- 6 de jul. de 2020
- 3 min de leitura

Hoje o mundo da música e do cinema amanheceu mais triste. Um dos melhores compositores de música, de bandas sonoras, de aventuras e estórias incríveis, partiu aos 91 anos em Roma.
O repertório de Ennio Morricone no que toca a bandas sonoras e peças musicais escritas para filmes é extensíssimo. Não sei se alguém saberá dissociar a sua música do filme onde aparece. "Já viste O Bom, o Mau e o Vilão? Não? É um western com o Clint Eastwood e tem aquela música assim...(trauteando Ecstasy of Gold) que até os Metallica usam para abertura e encerramento dos concertos, ou aquela que até foi o tema de abertura do Eixo do Mal - programa da Sic Notícias. E o Era Uma Vez no Oeste e a música do homem da harmónica, já viste?" Isto são apenas alguns exemplos, poderia ficar aqui o dia inteiro a citar os seus êxitos e as peças mais conhecidas. Não sei o que será mais conhecido até, se os filmes em si se as bandas sonoras. Sei, no entanto, que um não existe sem o outro, e isto faz dele um génio. A definição de banda sonora no dicionário devia ser sinónimo de Ennio Morricone.
Quem nunca se deixou levar pela banda sonora de Era Uma Vez no Oeste? De O Bom, o Mau e o Vilão? De Era Uma vez na América? De Por um Punhado de Dólares e tantos outros westerns e parcerias com Sergio Leone (provavelmente a parceria mais bonita que o mundo cinematográfico alguma vez presenciou). Quem nunca se emocionou com Cinema Paradiso e a sua banda sonora de partir o coração em pedacinhos? E mais recentemente, não fosse Quentin Tarantino um amante de westerns e de Sergio Leone, quem nunca vibrou com a banda de sonora de Hateful Eight (que lhe valeu o tão merecido Óscar em 2016) e algumas composições de Django Unchained?
"Morricone's music is indispensable to me. Ennio's been my friend since school days, and he knows what I want, even though at times he gets a bit brutalized by me in the process. The music is indispensable, because my films could practically be silent movies, the dialogue counts for relatively little, and so the music underlines actions and feelings more than the dialogue. In the latest films, I've had him write the music before shooting, really as a part of the screenplay itself. I believe that Kubrick too has followed this method. At one point he must have been thinking of Ennio for A CLOCKWORK ORANGE, because he telephoned me saying a thing a bit nasty about Ennio: "Explain to me why of all the Morricone albums I own, I only like the music he's written for your films?" But, I made Ennio take the job seriously, I explained what I wanted very clearly, and I was also capable of throwing away ten beautiful musical themes before approving the right one." - Sergio Leone

A lista de filmes e referências podia (e deveria) continuar, mas quero deixar em destaque sobretudo estes, sobretudo os westerns, por serem, sem dúvida, as bandas sonoras que eu associo ao maestro, por serem as minhas bandas sonoras favoritas. Não há westerns sem Ennio Morricone. Não haveria O Bom, o Mau e o Vilão sem ele - este que é provavelmente o meu filme favorito. O mundo do cinema deve-lhe muito, assim como o da música, claro está, e por isso, hoje, o mundo das artes ficou mais pobre.
A última vez que o Maestro esteve no nosso país foi em Maio de 2019, com a digressão mundial de despedida "60 Years of Music". Sabia que não teria mais nenhuma oportunidade para vê-lo em cima do palco a conduzir uma orquestra. Sabia que nunca mais teria o prazer de ver as minhas bandas sonoras favoritas serem dirigidas ao vivo por ele. Fica-me a faltar este na minha lista de concertos memoráveis. Mas ficam os filmes com as suas bandas sonoras que repetirei vezes e vezes sem conta.
Se a minha vida tivesse uma banda sonora, teria que ser, forçosamente, composta por este senhor.
Obrigada Génio.
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