Ten Day Album Challenge
- Patricia Reis
- 1 de jun. de 2020
- 12 min de leitura
No outro dia chegou-me, via Facebook, o seguinte desafio:
Day 7 of the ten day album challenge. I've been challenged by XXXXXX to post an album cover a day, for ten days, of albums that have had an influence on my life. Each day I have to post a cover with no comments or reviews and then invite another person.
Today I challenge Patrícia Reis
Ora, se isto foi um desafio facebookiano, porque é que estou a partilhar isto aqui? Antes de mais porque além de não ter sido uma tarefa fácil, obrigando a uma reflexão mais cuidada, fez-me vasculhar os álbuns de infância e adolescência que estão na base das minhas escolhas musicais. Essa reflexão e a ida ao baú dos cd's, cassetes e vinil foi tão interessante que decidi dedicar um artigo no blog a este desafio. Do meu ponto de vista os dez álbuns que tiveram uma influência na nossa vida são aqueles que de algum modo nos marcaram, há um antes e depois de termos ouvido determinado álbum, quer seja por estarem nas fundações das nossas escolhas musicais e serem uma influência, quer seja por estarem associados a um momento importante da nossa vida ou ainda por serem um ponto de referência de perfeição ou uma espécie de porto seguro, onde nos revemos inteiramente com aquela obra e de algum modo, completa-nos. Dito isto, não creio que estejam aqui em causa o que considero ser os dez melhores álbuns ou os álbuns dos meus dez artistas preferidos. É uma pena porque aí creio que seria mais fácil, apesar de tudo. Os dez álbuns que de alguma modo me influenciaram ao longo da vida é uma história diferente e obrigou à dita reflexão.
Ok, Fuck. E agora? Começo por desvendar, desde já, que falhei o desafio. Eu tentei, juro. Além de ter levado uns três dias a pensar nisto e a vasculhar os meus cd's e os discos de vinil assim como os dos meus pais - aproveitar que ainda estou em Sines - juro que não me conseguia decidir. "Então e aquele? não metes na lista porquê? Se calhar tiro o outro e acrescento este."...Passaram-se dias e não conseguia deixar nenhum de fora. Cheguei a uma lista com os treze finalistas e estava deveras contente. Até que, para ser coerente, pensei: "não consigo, não posso colocar este e deixar de fora aquele." Portanto fiquei com uma lista de dezoito álbuns. A questão aqui é que é difícil restringirmo-nos apenas a dez, principalmente, se tivermos uma escolha musical mais ampla. A verdade é que eu sempre fui péssima a fazer escolhas, se me derem a escolher entre dois pratos, duas peças de roupa, o que seja, o mais provável é não decidir nada e optar pelos dois.
Vou tentar partilhar o meu pensamento ao escolher cada um dos álbuns e de que maneira tiveram uma influência na minha vida. Algumas escolhas são óbvias, no sentido em que tiveram tanto impacto em mim que acabaram por moldar não só a minha escolha musical daí para a frente como até o meu carácter e postura de estar na vida. Outros que também são escolhas óbvias são aqueles álbuns que me lembro de ouvir na aparelhagem dos meus pais, ou nas viagens de carro com eles, álbuns que sei reconhecer as músicas todas e me transportam até esses tempos - e que ainda hoje me acompanham na verdade - e são a base, as fundações, das minhas preferências musicais.
Comecemos pela minha primeira escolha, bastante óbvia, Mezzanine de Massive Attack. Álbum de 1998 que provavelmente me influenciou mais em todos os sentidos. Não só é o álbum mais riscado que tenho - o que significa que foi bastante usado (ou mal tratado) - como é o mais querido. Lembro-me exactamente da primeira vez que ouvi Teardrop na MTV, quando esta ainda passava música, e senti-me como um burro a olhar para um palácio. Até então as minhas escolhas musicais giravam muito em torno da Pop, Spice Girls, Backstreet Boys, 'NSYNC, Britney Spears, etc, e eis que surge esta pequena relíquia - Teardrop - no ecrã da minha TV. "Isto é diferente. O que é isto? E porque é que estou vidrada a olhar para este videoclip? E porque é que esta música me acalma e me faz chegar a sítios onde a música Pop ainda não tinha conseguido?" Comprei o álbum Mezzanine e daí para a frente foi o álbum que me acompanhou sempre que precisava de inspiração para fazer os trabalhos de casa para as disciplinas de artes e não só. A Pop ficou para trás e o Trip-Hop dos Massive obrigaram-me a percorrer a cena artística do sul de Inglaterra, sobretudo, Bristol, onde descobri o Dub, a Electrónica, Downtempo, Rock Alternativo, Acid Jazz, Drum and Bass, só para nomear alguns. Daqui veio a segunda escolha óbvia, Dummy de Portishead - álbum perfeito pautado com a voz doce, dark, e misteriosa de Beth Gibbons. Incrível como ouvir apenas uma música na televisão mudou toda a minha escolha musical e até a personalidade. Daqui para a frente passei a preferir o preto ao azul, numa atitude muito mais tranquila, dediquei-me muito mais à pintura, escrita e fotografia, deixando as bonecas, o arco íris e os unicórnios para trás. No fundo, creio que isso sempre esteve presente cá dentro, simplesmente descobri a alavanca que tornou possível fazer essa passagem. Pode ter sido do meu próprio desenvolvimento, claro, mas a verdade é que Teardrop impulsionou tudo isto de uma maneira mais rápida. E estando dentro da cena do Trip-Hop e de Mezzanine, vem a descoberta de Tricky e Horace Andy. Estes dois, apesar de estarem presentes nesta fase, não deixaram marcas tão profundas, no entanto levaram-me à minha terceira escolha e é aqui que todos estes estilos se começam a fundir e vão abrindo novos caminhos. Horace Andy canta uma das músicas mais marcantes, Angel, do álbum Mezzanine, no entanto Andy faz parte da cena musical jamaicana, e portanto, o reggae e o dub são as suas raízes. É aqui que descubro que provavelmente o que mais me atrai nestes géneros são o baixo e as notas graves e vagarosas das músicas desta gente toda, onde o Dub é rei. Daqui até chegar a Bob Marley, Peter Tosh, Black Uhuru (em parte também pelo Festival Músicas do Mundo de Sines), Sly & Robbie foi um instante. A terceira escolha está então bloqueada, Legend de Bob Marley será o álbum escolhido. Podia ser Exodus, na verdade, e provavelmente foi o álbum mais tocado dele aqui por casa, mas Legend tem todos os êxitos. Fiz batota e escolhi esse.
Mezzanine (1998) de Massive Attack, Dummy (1994) de Portishead e Legend (1984) de Bob Marley&The Wailers
Agora as escolhas óbvias que derivam das memórias dos discos e cassetes tocados em casa dos meus pais - sobretudo do meu pai - e nas viagens de carro. Do lado do meu pai reinava o Rock, na versão pura ou nas variantes Country e Folk, Blues e Jazz. Se quisermos traduzir por artistas tínhamos, The Beatles ou Paul McCartney, The Doors, Dire Straits ou Mark Knopfler, Leonard Cohen, Simon and Garfunkel, Elvis Presley, Johnny Cash, Willie Nelson, Duke Ellington, Nat King Cole ou Billie Holiday, só para nomear alguns. Do lado da minha mãe ainda há a acrescentar a Bossa Nova e música francesa também sempre presente. Confesso que a chanson française nunca me cativou muito, em parte porque me soava muito Pop e um pouco cliché, no entanto, e dito isto, não fico indiferente à madame Piaf, Françoise Hardy, Carla Bruni ou Charles Aznavour. A Bossa Nova, essa , é impossível não gostar. Como não gostar de músicas melosas de fim de tarde acompanhadas só com uma guitarra acústica? Este género acompanha-me desde estes tempos, mas claramente ganhou outra vida quando vivi um ano no Brasil. Um exemplar de Bossa Nova também poderia fazer parte dos dez álbuns da minha vida, mas tive que abdicar de alguns senão a lista nunca mais acabava, e este foi um deles, desculpa Caetano.
Voltemos ao Rock. Este sim, marcou-me para sempre. Desde Highwaymen, The Beatles, Leonard Cohen, Mark Knopfler ou Elvis a tocar na aparelhagem até às viagens no mítico Renault 21 dos meus pais a ouvir vezes sem conta a cassete Off the Ground do Paul McCartney. Acho que consigo reconhecer todas as músicas deste álbum apenas em dois ou três segundos. Este álbum esteve para ser a quarta escolha óbvia mas como já ía escolher um álbum dos quatro fantásticos achei que podia "cortar" no Paul, uma vez que um acaba por derivar do outro. Portanto a próxima escolha são sem dúvida, The Beatles, e escolhi o álbum 1, não só por ser o que tenho mais memória mas porque assim não tive que optar entre o Abbey Road ou o White Album. Cá está a minha dificuldade em fazer escolhas. A outra óbvia é o álbum Highwayman 2 dos Highwaymen onde figuram Johnny Cash e Willie Nelson. Johnny Cash é provavelmente a voz que mais me marcou enquanto cachopa. O Country e o Folk Rock sempre figuraram cá em casa e o Mr. Cash é o meu herói no que toca a este género musical. E por falar em voz, Leonard Cohen, também era sempre dos artistas mais apreciados pelo meu pai. No entanto, escolhi um álbum que ele não tem cá em casa e que eu só ouvi uns anos mais tarde - Songs Of Love and Hate. A razão é simples, as bases estão cá e ficaram para sempre, acontece que só uns anos mais tarde quando ouvi Avalanche é que o clique sobre a voz de Cohen se deu dentro de mim. Seria incorrecto dizer que o álbum Dear Heather me marcou, porque não marcou, a voz e a musicalidade dele sim, ficaram registadas, mas o amor só aconteceu quando ouvi pela primeira vez Avalanche. Também poderia ter incluído o "meu" Elvis, por ser simplesmente o Rei, mas novamente, tive que fazer escolhas, e na altura o álbum dele não foi o que mais me influenciou, para ser sincera, assim como também não incluí Muddy Waters, ou Robert Johnson, entre outros dos pais fundadores do Blues e do Rock&Roll. No entanto, é daqui que vem toda a minha influência rockeira, as bases são estas, perduram e hão-de perdurar, de onde vêm quase todos os meus heróis e as pessoas que mais admiro no campo musical e artístico. Por último, e ainda influenciada pelo meu pai, falta incluir aqui a escolha de Glenn Miller tocada pela BBC Big Band. Álbum que ouvi vezes sem conta e que me alegrava sempre, deixando o bichinho do Jazz cá dentro. E assim vamos com sete álbuns, certo?
1 (2000) The Beatles, Highwayman 2 (1990) de Highwaymen, Songs of Love And Hate (1971) de Leonard Cohen, BBC Big Band plays Glenn Miller (s.d.)
Mas não foram apenas os meus pais que me influenciaram na música que oiço hoje em dia. Também os meus primos tiveram um papel fundamental, nos muitos verões que passei na casa deles. Aqui o Rock era mais pesado e mais recente também, Deftones, Pearl Jam, Smashing Pumpkins, entre outros, mas foi aqui que fiquei maravilhada com Schism de Tool ou com o álbum Californication de Red Hot Chili Peppers. Abriram as portas para uma vertente mais progressiva, grunge, funk e alternativa do rock, coisa que não rodava em casa dos meus pais. Muitas destas bandas ainda hoje me acompanham e ao contrário do Blues Rock e dos seus fundadores, estes, ainda posso vê-los ao vivo, enquanto que os outros, grande parte, são apenas memórias, visitáveis apenas nas suas campas - para grande tristeza minha. Mas aqui estão mais duas escolhas óbvias, Californication e Lateralus.
Lateralus (2001) de Tool e Californication (1999) de Red Hot Chili Peppers
E com estes oito álbuns quase que podia fechar a conta dos dez, bastaria para isso acrescentar os dois álbuns das duas bandas que viria a descobrir uns anos mais tarde quando comecei a pesquisar fora da esfera das minhas influências juvenis directas. Esses dois álbuns tinham que ser dos Rolling Stones e dos Led Zeppelin - duas das minhas bandas favoritas, com todos os meus heróis incluídos. A escolha dos álbuns seria difícil, mas para ser coerente talvez tivesse que escolher os álbuns que incluem as primeiras músicas que ouvi deles. E nesse caso seriam o Aftermath e o Led Zeppelin IV. Só não mantive o Aftermath, trocando pelo Sticky Fingers, por este último representar a consciência de que estava perante uma banda do outro mundo, coisa que não tinha acontecido ainda com Aftermath. Estávamos assim com dez e não se falava mais nisso, certo? Errado. Faltava falar de outra influência que descobri uns anos mais tarde e que tem moldado e alargado o meu espectro musical desde então.
Sticky Fingers (1971) The Rolling Stones e Led Zeppelin IV (1971) dos Led Zeppelin
Estamos em 2012 e oiço pela primeira vez, já não sei como, um live set de Nicolas Jaar no Sónar de Barcelona via Youtube. É aqui que tudo se volta a baralhar, perguntas e mais perguntas, "quem é ele? o que é isto? ele faz isto ao vivo? que música é esta que ele misturou?" Ei-lo, Nicolas Jaar - o filho prodígio da música electrónica mais recente. Este set dele é considerado por muitos com um marco na música electrónica, portanto não fui só eu a ficar abananada com ele. Daqui resulta a minha décima primeira escolha e que se revelou muito importante nos anos seguintes, Nicolas Jaar e o seu Space Is Only Noise . Como deixá-lo de parte? Não podia. O bichinho da música electrónica já cá estava quando me deixei cativar por Massive Attack, Hooverphonic, Morcheeba, ou outras bandas que recorriam ao auxilio de sintetizadores e computadores, mas este menino apresentou-me o outro lado da electrónica, o das performances ao vivo, em festivais ou clubes nocturnos, incluindo House, Techno ou Minimal, desde a produção integral de álbuns e/ou o da mistura de música de outros - DJing. Nicolas Jaar só me veio mostrar, como em todos os géneros musicais, há espaço para várias vertentes, ramificações, interpretações, o que quiserem chamar, e que também ela - a música electrónica - é capaz de nos levar a sítios não tão óbvios e característicos deste género musical. Como assim é possível misturar Soul, Hip Hop, Fado, ou colocar um saxofone no meio de uma performance de música electrónica? Como assim não precisamos estar sempre acima dos 120bpm - beats per minute - para dançar loucamente numa rave ou discoteca? Não. Nem sempre. E foi este menino que me abriu as portas para a música electrónica das mesas de mistura e dos clubes nocturnos. Daqui para a frente mergulhei no mundo do Boiler Room, festivais de música electrónica, discotecas, sempre em busca de artistas que têm um conhecimento tal de todos os géneros musicais que conseguem fazer DJ sets com os mais diversos backgrounds. Já não sei onde li ou se foi alguém que me disse, mas um bom DJ é aquele que nos apresenta ou faz procurar por novos artistas. E isto em nada tem a ver com EDM - Electronic Dance Music - onde figuram os kitsch Pop David Guettas ou Steve Aokis desta vida. No campo dos produtores de música electrónica também ele [Jaar] me apresentou a electrónica mais Minimal, Deep e Dub da House e da Techno, que por sua vez me fez chegar até à cidade de Detroit. E é aqui que chega outra das minhas escolhas Moodymann e o seu álbum com o mesmo nome. Decidi colocá-lo por representar especificamente esta variante do Techno - Detroit Techno - e que tanto me tornei fã, por me levar de novo ao mundo do R&B, do Hip-Hop e sobretudo do Funk, Disco e Soul afro americano. Ambos, Jaar e Moodymann, apresentaram-me a todo um mundo novo de artistas e de géneros e de possibilidades. É certo que a cada set ou mix que oiço deles, há algo novo que vou descobrir.
Space Is Only Noise (2011) de Nicolas Jaar e Moodymann (2014), de Moodymann
Falando de R&B e Hip-Hop e já que quebrámos a barreira dos dez, também tenho que incluir outra grande influência de adolescência - rainha do Soul e do Rhythm and Blues - Erykah Badu. O álbum tem que ser o Baduizm. Também neste campo podia incluir Voodoo de D'Angelo ou passando já para o Hip-Hop o Speakerboxxx/The Love Below de Outkast. Tudo grandes álbuns que fazem parte da minha adolescência e que continuam a ser marcos de referência neste género musical. No entanto, no que toca ao Hip-Hop, há uma banda que me marcou mais e que está na base do meu gosto pelo Hip-Hop clássico dos anos 90. Essa banda é A Tribe Called Quest, e o álbum tem que ser o The Love Movement. Tendo estas duas referências tudo o que seja Notorious B.I.G, 2 Pac, Mos Def, Mobb Depp, The Roots, Mrs Lauryn Hill, The Pharcyde, Q-Tip, flui fácil e abre-me uma nova janela dentro destes géneros musicais. Também tinham que fazer parte da lista.
Baduizm (1997) de Erykah Badu e The Love Movement (1998) de A Tribe Called Quest
Podia, e devia, ter ficado por aqui. Seria uma bela amostra. Mas então e Nick Cave? Desde que ouvi Push The Sky Away que a minha vida não foi a mesma. Confesso que estive reticente em colocá-lo na lista. Tenho ideia que considero a escrita dele mais importante para mim do que a própria música. Mas sem a música não teria chegado à escrita, e uma reflecte-se na outra. Portanto cá está. Por último coloquei dois álbuns que são quase perfeitos e que também me marcaram de alguma forma, mais pelos artistas e pela influência que tiveram na cena musical na sua altura. De todos os álbuns que escolhi até aqui, estes seriam, talvez, os dois que me marcaram menos comparativamente com todos os outros, mas decidi acrescentá-los por serem artistas que me dizem muito, um deles Bill Withers e o seu Just As I Am, e o outro dos Fleetwood Mac, Rumours. Talvez estes álbuns fariam mais sentido serem incluido numa lista do tipo, melhores álbuns de sempre. Mas já que estravasei, então estes também entram.
Push The Sky Away (2013) Nick Cave&The Bad Seeds, Just As I Am (1971) de Bill Withers e Rumours (1977) de Fleetwood Mac
E estes são os "dez" álbuns que mais me influenciaram. Desafio bonito que encerrou a minha semana e me fez ir ao baú da música. Já agora, nas páginas do nosso Instagram e Spotify há uma playlist "Sunday Chill" onde vou colocando músicas para chillar, claro está, e muitas delas vêm deste meu background musical, com muitos dos meus heróis, perfeito para encerrar ou iniciar a semana.
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