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Dear Nick. Love, Pat.

  • Foto do escritor: Patricia Reis
    Patricia Reis
  • 27 de abr. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 25 de mai. de 2020



Dear Nick,


Ao contrário do que é habitual na página do Red Hand Files, não te vou lançar uma pergunta, porque na verdade não tenho nenhuma. Mas tenho uma declaração de admiração e, portanto, começo desde já por pedir desculpa por escrever-te em português, mas esta é a minha língua materna, a língua que domino e, portanto, não quero cometer imprecisões. Além disso, tenho a certeza que vais adorar ler isto em português, é uma língua matreira e algo complicada mas poética à sua maneira.


Sempre que recebo no meu e-mail a newsletter com novidades do Red Hand Files, penso, ok, é hoje que lhe envio uma pergunta. Pensa. O que lhe perguntarias se tivesses cinco minutos com ele? A verdade é que depois de clicar na newsletter e ler as tuas considerações sobre aquilo que os teus seguidores te enviam, volto a sentir-me muito pequena. Acho que isto acontece sempre que me confronto com alguém que admiro muito. Nunca sei o que dizer com medo que as palavras que saem da minha boca ou das minhas mãos sejam demasiado banais. Uma vez o José Saramago estava a dar autógrafos na feira do livro de Lisboa - já leste alguma coisa dele? Afinal sempre tenho uma pergunta para ti - e eu simplesmente recusei-me a ir ter com ele. O que é se diz a uma das pessoas que mais admiras? Olá? Boa tarde, gosto muito do seu trabalho? Tudo o que me passou pela cabeça pareceu-me absurdo e banal no meio daquela gente toda. Portanto, não fui. Fiquei a olhá-lo de longe e muito contente por ter estado a uns míseros metros de distância dele. Contigo passa-se o mesmo. Por isso, ao invés duma pergunta, envio-te um texto completo, uma carta. Se calhar o meu problema está em não saber resumir as palavras, uma pergunta parece-me sempre muito simples, muito curto. No entanto, deixa-me que te diga que também fico muito descansada por teres um grupo de seguidores e fãs, na qual eu me revejo, capazes de levantar questões muito interessantes e pertinentes. E nesse sentido, talvez as minhas perguntas não sejam necessárias, até porque não seriam melhores, seguramente. Mas mais interessante que isto tudo, e o que me faz ganhar o dia depois de ler as tuas respostas é, claramente, a tua sabedoria, eloquência, transparência e paciência ao responder-nos. Não te consigo explicar quão inspirador é. E por isso, muito obrigada. Obrigada por partilhares este pedaço de internet connosco e de alguma maneira manteres o contacto com os teus seguidores. 




Esta foto pertence a Nikolay Nersesov

e foi retirada de nickcave.com.br



Hoje é dia 20 de Abril (escrevi este texto nesse dia, apesar de ter sido publicado mais tarde) e deveria ser o dia em que estaria de ressaca após o teu concerto em Lisboa. Deveria ser o dia em que estaria de coração cheio depois de te ter visto bem de perto, a ti, ao Warren, e à restante banda. Deveria ser o dia em que recordaria o Warren a rasgar o violino como se de uma guitarra tratasse, com sorte deveria ser o dia em que recordaria que quase tocaste a minha mão quando andaste pelo palco e no meio do público, deveria ser o dia em que recordaria o êxtase da Jubilee Street e a emoção das novas músicas de Ghosteen, deveria ser o dia em que recordaria a missa que foi o teu concerto e deveria ser o dia em que recordaria quão próxima estive de ti, uma pessoa que admiro bastante. E ao Warren. Deixa-me só fazer aqui um parêntesis, que eu sei, que em nada te importarás, mas o tu e o Warren são provavelmente a minha dupla preferida de músicos a tocar hoje em dia. Yep, é isso mesmo. Não consigo pensar, neste momento, em melhor dupla que vocês os dois. Se puderes dividir um pouco deste texto com ele, também te ficaria muito grata. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a parceria e companheirismo que ele tem contigo, responsável, e muito, pelos álbuns que nos dão, mas também pelas bandas sonoras de alguns dos meus filmes favoritos. Como fiel seguidora de cinema que sou, é a cereja no topo do bolo saber que vocês estão a orquestrar musicalmente tudo por trás. E que bem que estão. Depois agradecer-lhe por ser a máquina que é, enquanto multi-instrumentista e músico em palco, e por último, mas não menos importante, pela barba incrível que tem. Máximo respeito.



Nick Cave e Warren Ellis


O parêntesis foi grande, mas dadas as circunstâncias que todos sabemos, aqui estamos, eu em minha casa e tu, provavelmente, na tua também, isolados e sem ressaca alguma. Aguardava este concerto com muita expectativa, não só pela oportunidade de ver pela primeira vez ao vivo algumas músicas de Ghosteen (que para mim foi o melhor álbum de 2019), mas também porque o teu concerto no Primavera Sound no Porto, há cerca de dois anos atrás, me ficou atravessado pelo diluvio de água que se fez sentir naquele dia. Foi poético não haja dúvida, mas houve ali um acumular de desconforto/cansaço/má escolha de lugar para assistir, que me deixou desiludida - não com vocês, claro - mas com as condições em que vos vi. Gostava de me ter redimido no concerto de ontem, que acabou por não acontecer. Agora só para o ano não é verdade? Espero que nessa altura esteja tudo operacional neste nosso pequeno planeta. 


Deixa-me que te diga que nunca vos tinha visto ao vivo, e apesar das condições já mencionadas, foi um concertaço e só vos posso agradecer pela experiência transcendente que nos proporcionaram. Vocês - Nick Cave & The Bad Seeds - são das poucas bandas que são melhores ao vivo que em estúdio. Não é só a questão de tocar em cima dum palco uma setlist, trata-se, acima de tudo, da comunicação que o artista consegue ter com o público, os seus seguidores, as pessoas que cativou ao longo dos anos. E deixa-me que te diga que tu és dos melhores comunicadores que conheço. Aliás, isso está bem comprovado no Red Hand Files, mas nos concertos, ao vivo, perto de nós, há uma entrega e um desejo real de contacto com as pessoas que estão ali à tua frente. Isso é raro e de louvar.


Por isso tudo, e pelo significado que o álbum Ghosteen tem para ti, este concerto era muito esperado. E, por fim, deixa-me também que te diga que não foi só a ti que fez bem a abertura e o desejo de estar ainda mais em contacto connosco - seguidores - com a criação do Red Hand Files e dos recentes concertos pergunta-resposta que realizaste depois da morte do Arthur, a nós também nos fez muito bem. Essa necessidade de contacto parece ser recíproca, e outra coisa rara, um artista de renome, alguém que consideramos estar acima de nós, por qualquer motivo, afinal é um comum mortal como nós, capaz de descer do seu pedestal, que tem dúvidas e inquietações iguais às nossas. E o mais bonito de tudo isso, é que não o fazes por reconhecimento ou necessidade de alimentar um ego ferido, mas sim porque acreditas que essa ligação seria benéfica para ti e porque realmente querias ouvir/ler as pessoas que te seguem. E isso, além de genuíno, é muito bonito. Quero acreditar que de algum modo te fazemos companhia e conseguimos ajudar, por pouco que seja, a viver com um dos marcos mais difíceis para um pai - o de perder um filho.


P.S.: Obrigada também pela Bad Seed Teeve que muita companhia me tem feito nesta quarentena da treta, que não substitui um concerto vosso, mas ajuda, e muito.


Até para o ano.

Love, Pat



Fica aqui também uma selecção de músicas do Nick Cave & The Bad Seeds onde muitas delas, certamente, fariam parte da setlist do concerto em Lisboa. Pelo meio acrescentei umas quantas que bem sei que não seriam tocadas uma vez que, ou não fazem parte da setlist deles há muito tempo, ou porque pertencem à dupla Nick Cave & Warren Ellis e são de bandas sonoras de filmes, mas não consegui deixá-las de fora. Tive que impor um limite a mim mesma (25!), muitas ficaram de fora, eu sei, mas aqui fica uma bela amostra:

- Jesus Alone

- Galleon Ship

- Higgs Boson Blues

- From Her to Eternity

- Tupelo

- Jubilee Street

- Into My Arms

- Girl in Amber

- Bright Horses

- Where the Wild Roses Grow

- I Let Love in

- Lightning Bolts

- More News From Nowhere

- Bring It On

- Red Right Hand

- The Mercy Seat

- Fireflies

- Distant Sky

- Skeleton Tree

- Mermaids

- The Weeping Song

- Dig, Lazarus, Dig!!

- Stagger Lee

- Comancheria Pt 2 (do filme Hell or Highwater)

- Song for Bob (do filme The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford)


Esta playlist está disponível no nosso Spotify:




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