E o Óscar vai para...

Fiz as minhas apostas para a 92ª edição dos Óscares que irá decorrer no dia 9 de Fevereiro no, já habitual, Dolby Theatre, em Los Angeles, EUA. Para cada categoria elejo o favorito a levar a estatueta; quem está na luta taco a taco e poderá levá-la também e, ainda, quem deveria levar. Esta última aposta decidi incluí-la e aproveitar para falar de algumas omissões/esquecimentos por parte da Academia este ano (que foram algumas). Exclui algumas categorias, sobretudo as de carácter mais técnico, para a publicação não ficar demasiado longa.

Ok. Ready. Set. Go

Melhor Filme

Nomeados: 1917, Ford vs Ferrari, Gisaengchung, Jojo Rabbit, Joker, Little Women, Marriage Story, Once Upon a Time in Hollywood, The Irishman

Quem leva a estatueta: 1917

Quem está à espreita: Gisaengchung

Quem deveria levar: The Irishman ou Gisaengchung

Tudo leva a crer que será 1917 o grande vencedor da noite levando a estatueta de melhor filme. Confesso que ficaria mais feliz se fosse para Gisaengchung ou The Irishman. 1917 é um filme espectacular pelas características técnicas, de produção, de realização e de cinematografia, mas falta-lhe aquilo que considero ser bastante superior nos outros dois candidatos: o conjunto de actores e o argumento. E nesse sentido, se olhar para todas as categorias, creio que o prémio ficaria muito mais bem entregue a um desses dois candidatos. Além de que, seria duplamente interessante assistir ou à vitória de um filme sul coreano, quebrando a hegemonia americana/britânica, ou à vitória de um filme representado pela Netflix - já que este factor ainda causa muita turbulência dentro do núcleo de membros da Academia, incluindo o próprio Sam Mendes, que faz questão de mencionar em quase todos os discursos de agradecimento que os filmes ainda são feitos para serem assistidos no cinema. Seria interessante ver a casa a abanar. 

Melhor Actor

Nomeados: Adam Driver (Marriage Story), Antonio Banderas (Dolor y Gloria), Joaquin Phoenix (Joker), Jonathan Pryce (The Two Popes), Leonardo DiCaprio (Once Upon a Time in Hollywood)

Quem leva a estatueta: Joaquin Phoenix

Quem está à espreita: Ninguém. Mas gostava de poder escrever aqui Robert De Niro

Quem deveria levar: Joaquin Phoenix

Há poucas prestações que me tenham impressionado tanto como a de Joaquin Phoenix em Joker. Joaquin está numa liga à parte, e poucos são os actores que o acompanham. Tem um método específico, ultra dedicado de se envolver com a personagem que desempenha. Em Joker isso é tão notório que quase nos questionamos onde começa o actor e onde termina a personagem. Chega a ser assustador. Se era suposto sentirmos pena, medo, piada e tristeza tudo ao mesmo tempo, well done, porque foram raras as cenas que não senti tudo ao mesmo tempo. Vale a pena pesquisar os vídeos que circulam pelo youtube sobre a rodagem do filme e os comentários feitos pelo próprio actor onde este descreve como treinou e preparou a personagem, nomeadamente, a questão da definição dos três tipos de riso do Joker. Este é certo. Vai para o "meu" Joaquin e está muito bem entregue.

Nota para os actores não nomeados e que mereciam estar aqui também: Robert De Niro (The Irishman). Como é que este filme consegue nomeações para quase todas as grandes categorias, e o homem que faz a ligação entre todas elas, não está presente?  

Melhor Actriz

Nomeadas: Charlize Theron (Bombshell), Cynthia Erivo (Harriet), Renée Zellweger (Judy), Saoirse Ronan (Little Women), Scarlett Johansson (Marriage Story)

Quem leva a estatueta: Renée Zellweger (Judy)

Quem está à espreita: Saoirse Ronan (Little Women) ou Scarlett Johansson (Marriage Story)

Quem deveria levar: Renée Zellweger (Judy)

A personificação de Judy Garland feita por Renée é impressionante. Aliás, Judy, é Renée Zellweger (e na verdade, é pouco mais do que isso). São o tipo papéis muito acarinhados pela Academia, portanto é mais uma estatueta certa. Uma palmadinha nas costas à "minha" Saoirse -  vais ser a próxima Meryl Streep das nomeações, miúda! Melhor ainda! P.S.: Já que vais ganhar, Renée, se me estás a ler neste momento, por favor aceita o Óscar deixando uma mensagem de esperança, cantando: "Somewhere over the rainbow/ way up high/ there's a land that I've heard of once in a lullaby/ somewhere over the rainbow/ skies are blue/ and the dreams that you dare to dream/ really do come true". Não haverá melhor discurso de agradecimento.

Melhor Actor Secundário

Nomeados: Al Pacino (The Irishman), Anthony Hopkins (The Two Popes), Brad Pitt (Once Upon a Time in Hollywood), Joe Pesci (The Irishman), Tom Hanks (A Beautiful Day in the Neighborhood)

Quem leva a estatueta: Brad Pitt

Quem está à espreita: Joe Pesci ou Al Pacino

Quem deveria levar: Brad Pitt

A definição de actor secundário é, provavelmente, a própria prestação de Brad Pitt em Once Upon a Time in Hollywood. Actor que auxilia - coadjuva - o actor principal para o bem maior, o filme em si. É precisamente isso que ele faz no filme de Quentin Tarantino. Once Upon a Time in Hollywood desenvolve-se à volta destes dois actores e um vive muito do outro, portanto parece-me óbvia a escolha da Academia. Para além disso, a Academia gosta de premiar actores que reúnem um conjunto de boas prestações e várias nomeações ao longo da carreira e, por algum motivo, nunca conseguiram levar a estatueta. Parece-me que é este ano que eles homenageiam o Brad. Esta categoria talvez seja uma das mais renhidas este ano, com uma média de idades na casa dos sessenta anos (!), com óptimas prestações, e sinceramente qualquer um podia levar a estatueta. No entanto, custa-me muito ver um Al Pacino não ser premiado pela prestação em The Irishman. Mas lá está, o filme de Scorsese vive de várias prestações secundárias muito boas, talvez inferiores em termos de protagonismo em relação a Once Upon a Time in Hollywood, e os papéis de Al Pacino ou Joe Pesci perderam a corrida para o de Brad Pitt.

Nota para Willem Dafoe (The Lighthouse) que merecia ter sido nomeado por nos brindar com uma das melhores melhores prestações da sua carreira, na minha opinião. E já agora, Song Kang Ho (Gisaengchung) também poderia estar aqui.

Melhor Actriz Secundária

Nomeadas: Florence Pugh (Little Women), Kathy Bates (Richard Jewell), Laura Dern (Marriage Story), Margot Robbie (Bombshell), Scarlett Johansson (Jojo Rabbit)

Quem leva a estatueta: Laura Dern (Marriage Story)

Quem está à espreita: Florence Pugh (Little Women) ou Kathy Bates (Richard Jewell)

Quem deveria levar: Florence Pugh (Little Women) ou Kathy Bates (Richard Jewell)

Gostava muito de ver nesta lista a Zhao Shuzhen (The Farewell). Quanto à Laura Dern (Marriage Story) é certo que levará a estatueta. Toda a temporada de prémios e festivais o leva a crer. Além de que, é mais uma das sweethearts da Academia que nunca levou o galardão para casa. Será este ano. Não foi uma prestação que me enchesse o olho, fiquei muito mais impressionada com Pugh ou Bates.

Melhor Realizador

Nomeados: Bong Joon Ho (Gisaengchung), Martin Scorsese (The Irishman), Quentin Tarantino (Once Upon a Time in Hollywood), Sam Mendes (1917), Todd Phillips (Joker)

Quem leva a estatueta: Sam Mendes (1917)

Quem está à espreita: Bon Joon Ho (Gisaengchung)

Quem deveria levar: Sam Mendes (1917)

Creio que a estatueta irá para Sam Mendes, e se há categoria em que este filme - 1917 -merece ser galardoado, talvez seja esta. Trabalho árduo e bem conseguido. No entanto, fica aqui aqui o meu voto de esperança que os deuses comandem os boletins de voto e decidam premiar o Bon Joon Ho. Nota também para o grande Terrence Malick com A Hidden Life e a capacidade de tornar as cenas quotidianas em algo tão simples e belo. Desde Tree of Life que não gostava tanto de um filme dele e isso deve-se, em grande parte, aos belos planos alargados, dos quais confesso ser grande fã, mas também a uma história muito peculiar sobre o carácter de uma família austríaca no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Podia muito bem estar nomeado. 

Melhor Argumento Original

Nomeados: 1917 (Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns), Gisaengchung (Bong Joon Ho, Jin Won Han), Knives Out (Rian Johnson), Marriage Story (Noah Baumbach), Once Upon a Time in Hollywood (Quentin Tarantino)

Quem leva a estatueta: Once Upon a Time in Hollywood (Quentin Tarantino)

Quem está à espreita: Gisaengchung (Bong Joon Ho e Jin Won Han)

Quem deveria levar: Once Upon a Time in Hollywood (Quentin Tarantino)

Creio que haveria espaço para The Farewell (Lulu Wang) nesta categoria.

Melhor Argumento Adaptado

Nomeados: Jojo Rabbit (Taika Waititi), Joker (Todd Phillips), Little Women (Greta Gerwig), The Irishman (Steven Zaillian), The Two Popes (Anthony McCarten)

Quem leva a estatueta: Little Women (Greta Gerwig)

Quem está à espreita: Jojo Rabbit (Taika Waititi)

Quem deveria levar: Little Women (Greta Gerwig).

A Greta merece - é uma belíssima adaptação. Por muito que tenha sido comentado e discutido, acho que este ano Gerwig não teria espaço dentro dos outros cinco nomeados para melhor realização. Sou fã do trabalho dela e adorei este Little Women, mas os outros cinco candidatos são muito fortes e infelizmente ela não conseguiu o seu espaço. No entanto, adorava que ela levasse esta estatueta.

Melhor Cinematografia

Nomeados: 1917 (Roger Deakins), Joker (Lawrence Sher), Once Upon a Time in Hollywood (Robert Richardson), The Irishman (Rodrigo Prieto), The Lighthouse (Jarin Blaschke)

Quem leva a estatueta: 1917 (Roger Deakins)

Quem deveria levar: The Lighthouse (Jarin Blaschke)

Quem está à espreita: The Lighthouse (Jarin Blaschke). Mas quem deveria estar aqui era Ad Astra (Hoyte Van Hoytema)

Roger Deakins é um dos melhores cinematógrafos que anda por aí. O palmarés dele é invejável e a qualidade da imagem fotográfica é inquestionável. Fiquei tão contente quando ele, finalmente, levou para casa a estatueta, em 2018, pelo maravilhoso trabalho em Blade Runner 2049. Mas, este ano, gostava muito que fosse para Jarin Blaschke. The Lighthouse é uma pérola fotográfica e sinceramente não percebo como é que este filme passa quase despercebido pela Academia. Talvez por ser demasiado teatral e de difícil 'digestão', mas já que Willem Dafoe não foi nomeado sequer, então gostava que a cinematografia fosse premiada - cada frame, cada cena, poderia ser uma fotografia emoldurada. Já para não falar do trabalho de iluminação que foi necessário para conseguir as imagens tão contrastadas. De mestre. Nota também para a não nomeação de Ad Astra que produz umas das mais belas imagens deste ano. É uma pena.

Melhor Edição

Nomeados: Andrew Buckland and Michael McCusker (Ford vs Ferrari), Jeff Groth (Joker), Jinmo Yang (Gisaengchung), Thelma Schoonmaker (The Irishman), Tom Eagles (Jojo Rabbit)

Quem leva a estatueta: Michael McCusker (Ford vs Ferrari)

Quem está à espreita: Jinmo Yang (Gisaengchung)

Quem deveria levar: Michael Cusker (Ford vs Ferrari)

Qualquer um dos dois seria um justo vencedor, mas talvez a edição de Ford vs Ferrari tenha sido mais impressionante pelo tipo de filme que é e por ter resultado tão bem. 

Melhor Design de Produção (Direcção Artística)

Nomeados: 1917 (Dennis Gassner e Lee Sandales), Gisaengchung (Ha-Jun Lee e Wo- woo Cho), Jojo Rabbit (Ra Vincent e Nora Sopková), Once Upon a Time in Hollywood (Barbara Ling e Nancy Haigh), The Irishman (Bob Shaw e Regina Graves

Quem leva a estatueta: 1917 (Dennis Gassner e Lee Sandales)

Quem está à espreita: Gisaengchung (Ha-Jun Lee e Wo- woo Cho) ou Once Upon a Time in Hollywood (Barbara Ling e Nancy Haigh)

Quem deveria levar: Once Upon a Time in Hollywood (Barbara Ling e Nancy Haigh)

Melhor Banda Sonora Original

Nomeados: 1917 (Thomas Newman), Joker (Hildur Guðnadóttir), Little Women (Alexander Desplat), Marriage Story (Randy Newman), Star Wars Episode IX: The Rise of the Skywalker (John Williams)

Quem leva a estatueta: Joker (Hildur Guðnadóttir)

Quem está à espreita: 1917 (Thomas Newman) ou Little Women (Alexander Desplat)

Quem deveria levar: Joker (Hildur Guðnadóttir)

Hildur Guðnadóttir nome a ter em conta para o futuro. Também foi ela que compôs algumas das músicas incluídas na banda sonora de Chernobyl (a série) e Mary Magdalene, e já tinha tocado e feito parte do departamento musical de filmes como Arrival e Sicario. Promete. Espero que a estatueta vá para ela. E já agora, mais um pormenor interessante: Hildur compôs a banda sonora para Joker antes das filmagens começarem, inspirando-se apenas no guião enviado por Phillips. Na cena da casa de banho, onde Arthur começa a desenvolver a sua personagem como Joker, Phoenix estava com alguma dificuldade em representar o início da transformação, e eis que Phillips decide colocar a música que Hildur já havia composto. A dança de Joaquin nessa cena da casa de banho, foi uma reacção espontânea e de improviso à música dela.  

Melhor Documentário

Nomeados: American Factory, For Sama, Honeyland, The Cave, The Edge of Democracy

Quem leva a estatueta: American Factory

Quem está à espreita: The Edge of Democracy ou For Sama

Quem deveria levar: For Sama

For Sama. For Sama. For Sama. Quinhentas horas de fita gravadas por Waad Al-Kateab entre 2012 e 2017 em Aleppo na Síria, condensadas em hora e meia. Desde os protestos contra o regime até ao bombardeamento da cidade, culminando na saída do país. Não há efeitos, nem filtros, nem pós produção. É uma mulher com uma câmara de filmar. Não é apenas um documentário sobre um país em guerra, é um alerta para como foi isto possível em pleno século XXI, o que somos enquanto humanidade e o que andam (ou não) os nossos governos a fazer, afinal. É raro emocionar-me com filmes de ficção ou documentários, mas não me lembro de ter ficado assim, tem cenas duríssimas que nos deixam com a sensação de ter levado um valente murro no estômago. Posto isto, acho que o galardão vai para American Factory. Tem a produção do casal Obama e toca num ponto forte (ou fraco, depende da perspectiva) e actual para a cultura norte americana: a General Motors e a entrada de capital chinês nos EUA com o consequente clash de culturas.

Melhor Filme de Animação

Nomeados: How to Train your Dragon: a Hidden World, J'ai Perdu Mon Corps, Klaus, Missing Link, Toy Story 4

Quem leva a estatueta: Klaus ou Toy Story 4

Quem está à espreita: Klaus ou Toy Story 4

Quem deveria levar: J'ai Perdu Mon Corps

A França produziu dois dos filmes de animação mais interessantes de 2019. Um deles é este J'ai perdi Mon Corps e o outro está nomeado na categoria de melhor filme de animação (curta metragem) e chama-se Mémorable. Apesar de ambos serem excelentes, quase que apostava que nenhum dos dois vai ganhar nas suas respectivas categorias. Não sei se a Academia (e os espectadores) continuam a associar filmes de animação a crianças, se assim for, filmes como estes nunca terão hipóteses. Nenhum dos dois está ao alcance de uma criança entender a sua verdadeira mensagem. Nem tampouco foram feitos para essa camada jovem, algo que já me aborrece nestas nomeações de filmes de animação. J'ai perdu mon corps retrata o olhar sobre a condição humana e o seu destino de uma maneira algo macabra e melancólica, enquanto que Mémorable mostra-nos a evolução da doença de Alzheimer num pintor já de certa idade. Ambos roçam a poesia, coisa que qualquer um dos outros nomeados se encontra muito longe de alcançar.

Melhor Filme Internacional

Nomeados: Bofe Cialo, Dolor y Gloria, Gisaengchung, Honeyland, Les Misérables

Quem leva a estatueta: Gisaengchung

Quem está à espreita: Dolor y Gloria

Quem deveria levar: Gisaengchung

Falta aqui um dos filmes mais aclamados este ano, por parte dos críticos, e que é uma surpresa não sido a escolha francesa: Portrait de la jeune fille en feu.

E é isto! Para o ano há mais.